Crises de Fé – O problema da dúvida

Um cristão comprometido e que pensa a respeito de sua fé possivelmente terá crise(s) de – de fé – em algum momento de sua vida. Inicialmente isso parece péssimo, pois tudo aquilo em que você sempre acreditou parece estar com as bases balançando. Então, como lidar com isso e tirar bons ensinamentos dessa experiência? Este […]



25 de fevereiro de 2015 Bibo Reflexões

Um cristão comprometido e que pensa a respeito de sua fé possivelmente terá crise(s) de – de fé – em algum momento de sua vida. Inicialmente isso parece péssimo, pois tudo aquilo em que você sempre acreditou parece estar com as bases balançando. Então, como lidar com isso e tirar bons ensinamentos dessa experiência? Este é um assunto que não se ouve muito falar, talvez pela delicadeza da situação. Quantas pregações você já escutou a respeito disso? Eu, sinceramente, nenhuma. O assunto pode ser altamente destrutivo se for tratado de maneira errada ou for negligenciado. A cada dia a dúvida vai minando sua vida espiritual, seu devocional já não faz mais sentido, a oração é apenas um ritual que você nem mais acredita e o pior de tudo, consegue-se viver aparentemente bem com isso. Isso não necessariamente vai aparecer as demais pessoas de forma visível em seu dia-a-dia, pois é uma luta interna, é uma construção que começa a ruir de dentro para fora. Há uma pesado fardo que se começa a carregar já que inicialmente você não sabe como lidar com isso direito. Assim, não há uma fórmula mágica ou receita simples, é um processo lento e agonizante, sendo que alguns até chamam de “a noite escura da alma”. Mas tenha esperança, com certeza vários já passaram por isso, homens e mulheres de Deus que de tudo isso tiraram valiosos ensinamentos. Mas como evitar de se perder nessa jornada? Em seu livro “Apologética para Questões Difíceis da Vida”, Willian Lane Craig sugere quatro pontos que nos ajudam nessa empreitada e vou usá-los para elucidar o tema.


1. Reconheça que a dúvida nunca é um problema puramente intelectual.

A dúvida é uma batalha espiritual também. O inimigo está ao de redor, bradando como leão e buscando quem ele pode tragar. Devemos levar em oração toda a dúvida, com sinceridade, buscando ajuda de Deus, pois até o momento ele tem ajudado.

“Eu creio ajuda-me na minha incredulidade” Marcos 9:24.

Se Satanás puder usar a dúvida para nos paralisar ou destruir, ele com certeza o fará. Não deveríamos encarar a dúvida como algo impessoal, tão pouco deveríamos achar que ter dúvidas seja uma virtude, uma vez que “pensar a fé” é diferente de “duvidar da fé”. É necessário que haja um discernimento claro a respeito disso.

2. Tenha em mente a relação adequada entre fé e razão.

A nossa razão tem que servir de ferramenta para testemunhar sobre a obra do Espirito Santo. Não é por argumentos ou evidências que a fé será abalada, pois o testemunho do Espírito, vez por outra, é contrário a muitas dessas evidências. Por exemplo, imagine que houvesse um roubo e que eu tivesse todos os motivos para roubar. Tudo aponta para mim, mas eu sei que eu não estava lá e que eu não roubei. A razão tem que ser serva da fé – Lutero chamava isso de fé ministerial -, mas a partir do momento que a razão toma o lugar do próprio Espírito Santo teremos então uma razão danosa e usurpadora. A razão é um instrumento dado por Deus para que possamos entender e defender nossa fé. O Espírito nos dá a certeza sobre verdades centrais da fé, porém, para os detalhes e ramificações usufruiremos da razão. A dúvida é controlável e sadia enquanto ela não se torna magistrada pela razão, mas sim pelo Espírito.

Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes em temor, mas recebestes o Espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai. O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. Romanos 8:15-16

Não teremos a respostas para todas as perguntas, até porque algumas são mistérios do próprio Deus, mas devemos ter uma posição em que a fé possa estar aliada a razão. Tendo a razão como ferramenta em direção a fé, aquela já não será contra esta, e assim poderão andar juntas ligadas pelo Espírito que testemunha.

3. Fragilidade do nosso intelecto e do nosso conhecimento.

O próprio Platão disse que ele era o mais sábio dos homens, pois afirmava que só sabia que nada sabia. Quanto mais aprendemos, mais vemos o quão ignorante somos, pois concluímos quão limitados somos tendo em vista o conhecimento geral das coisas. A verdade é que o que sabemos é uma gota no oceano. Segundo Isaac Newton, após fazer um tratado sobre física, ele refletia: “Não sei o que possa parecer aos olhos do mundo, mas aos meus pareço ter sido um menino brincando a beira-mar, divertindo-me com o fato de encontrar de vez em quando um seixo mais liso ou uma concha mais bonita que o normal, enquanto o grande oceano da verdade permanece completamente por descobrir à minha frente”.
Antes de duvidar da fé cristã ou mesmo negá-la, deveríamos simplesmente sustentar a verdade em tensão e admitir que a dificuldade repousa em nossa própria falta de percepção do problema ou da solução. Com frequência devemos nos lembrar da nossa fraqueza de intelecto e conhecimento limitado.

4. Lute com suas dúvidas até resolve-las.

Trabalhe para responder as perguntas e lute para resolve-las, pois será uma experiência abençoadora e lhe tirará um fardo. Busque as respostas em livros, na Bíblia, fale com pessoas conhecedoras do assunto e discuta com elas. Não há nada de novo em nossa vivência, muitos já passaram por isso, e você não será o último. Lembre dos “gigantes da fé” que vieram antes de nós e passaram pelos mesmos problemas, mas que tiraram grandes ensinamentos de suas lutas.

Sobretudo, se você está pensando em abandonar sua peregrinação espiritual, primeiramente seja honesto com Deus. Se “abra” com ele, não tenha reservas e nem censura nessa oração. Busque pessoas que falem o que é reto à Deus e que não estejam na mesma situação que você, pois elas lhe trarão novos caminhos e horizontes. Tenha em mente também que essa experiência lhe levará a outro patamar e provavelmente você será limpo dos clichês, das superficialidade e falsidades da fé. A face de Deus brilhará! Parafraseando o salmista: “O choro pode durar uma noite, mais a alegria vem pela manhã”. Sua “noite escura de alma” irá passar, seus alicerces ficarão mais fortes do que eram e haverá um reconstrução e uma fortificação. Preste atenção na voz que se faz presente em meio a escuridão e no silêncio que lhe encoraja a enfrentar e persistir, pois o Cristo está ali, ao seu lado, caminhando com você.

O assunto é extenso e o texto não se propõe a lhe trazer uma receita ou passos simples para resolver a situação, mas somente servir de auxílio. Há muito mais nuances e vertentes das que foram levantadas no texto e a intenção é levar você a refletir conosco e comentar a respeito. Creio que a troca de experiências e a reflexão sincera do tema pode ser de grande ajuda para você ou para alguém que está passando por isso.

Por fim, recomendo o livro que citei acima. Nele, Craig fala um capítulo inteiro a respeito desse assunto. Vale a leitura: Apologética para Questões Difíceis da Vida, de Willian Lane Craig.